Ela olhou em seus olhos
Com raiva, medo e misericórdia.
Ela olhou em seu rosto
Com ódio, angustia e dor.
Ela olhou para o seu corpo
Com saudade, tristeza e ternura.
Ela olhou para os seus atos
Com nojo, angustia e rancor.
Mas ela olhou... Ah ela olhou!
Quando nem mesmo eu fui capaz.
Ela olhou, ela gritou,
O feriu na alma com suas ofensas,
Vomitou em suas chagas,
Cuspiu em sua face.
Mas ao menos ela olhou
Para o pobre cadáver andante,
Parado em sua frente
Que tinha um lindo discurso pensado
Pronunciado em suas palavras malditas.
Mas ela olhou... Ah ela olhou!
Quando poderia olhar o céu azul
O mar calmo e o lago tranqüilo
Ela olhou.
Não para o pobre coitado,
Jogado naquela sarjeta pútrida
Defecando em seu próprio ser.
Mas ela olhou... Ah ela olhou
Sem amor nem bondade.
Não queria ajudá-lo
Nem tampouco destruí-lo.
Apenas olhou
Ela olhou
Como se em seu olhar estivesse à cura
O mal e o bem.
Sem isto pertencer aquele cão.
Ela olhou...
Ela o olhou...
Ela me olhou...
E ela viu a si mesma!